top of page
Buscar

QUE SIGNIFICADO TÊM O JEJUM E ABSTINÊNCIA?


"O homem não vive apenas de pão, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4,4).

“Entre outras significações, o jejum penitencial tem precisamente por objectivo ajudar-nos a reencontrar a interioridade. Sobriedade, recolhimento e oração caminham lado a lado”. (S. João Paulo II - Angelus de 10 de Março de 1996).

Mas afinal, para que serve fazer penitência, se me custa tanto e me é tão difícil? Não será algo ultrapassado, de uma Igreja pesada vinda da Idade Média? Qual a razão e o seu sentido?

Cristo quando veio ao mundo salvou-nos na cruz, fazendo o oposto que Adão fez (e que nós fazemos),isto é, teve a sua alma, o seu coração sempre unidos a Deus Pai, independemente dos horrores que os homens ingratos lhe faziam. Obediente ao Bem, nem por um só segundo obedeceu ao mal: nunca sentiu raiva, impaciência, proferiu más palavras contra os homens ou desistiu do que vinha fazer, ou seja, salvar os homens. Pelo contrário, amou Deus e amou os homens até ao fim, até à morte e morte de cruz. Obedeceu e agiu com toda a virtude sem permitir que os sofrimentos o levassem a pecar.

A cruz, é a maior prova que temos da perfeição, da santidade, do amor de Cristo por Deus e pelos homens.

Nós, cristãos, que acreditamos, amamos e seguimos a Cristo, devemos imitá-l’O. Mas, depois do pecado original (pecado de nossos primeiros pais, Adão e Eva) e mesmo depois de termos sido lavados desse pecado com o Baptismo, ficou uma mancha, uma marca, como uma cicatriz desse pecado, que é uma tendência permanente para o mal. Todos nós sentimos que nos é mais fácil fazer o mal do que o bem. Errar é fácil, cómodo, mas para acertar tenho que tomar essa decisão e contrariar a minha vontade que parece serva do facilitismo. E isso é tão mais dificil quanto mais habituada eu estou a obedecer a esse facilitismo, a esse conforto. Além disso, quando somos contrariados reagimos mal, como uma criança mimada, quando não se lhe dá o que quer. Sentimos irritabilidade, ira, impaciência ou até mesmo agimos com agressividade e más palavras. Tornamos-nos intolerantes. Em suma, pecamos, obedecemos ao mal.

A abstinência e o jejum são formas de penitência interior, que nos ajudam a controlar as nossas emoções, caprichos, paixões e nos ajudam a sermos mais fortes para combater o pecado. São como o treino de um atleta de alta competição. Ninguém irá se apresentar nas dificeis provas dos Jogos Olimpicos sem treinar antes e treinar muito, pois se o fizer perderá com certeza. Só um irresponsável e imponderado faria isso! As dificuldades da vida são as nossas provas dos Jogos Olimpicos, nós católicos chamamos-lhe cruz e se não nos preparamos para essas provas que podem ser, por vezes, muito exigentes, vamos perder! E desistiremos do Céu.

O Catecismo da Igreja Católica define penitência interior como sendo:

"Uma reorientação radical de toda a vida, um retorno, uma conversão para Deus de todo nosso coração, uma ruptura com o pecado, uma aversão ao mal e repugnância às mãs obras que cometemos. Ao mesmo tempo, é o desejo e a resolução de mudar de vida com a esperança da misericórdia divina e a confiança na ajuda de sua graça. Esta conversão do coração vem acompanhada de uma dor e de uma tristeza salutares chamadas pelos Padres de "animi cruciatus" (aflição do espírito, "compunctio cordis" (arrependimento do coração)." (CIC 1431)

O jejum e abstinência de carne são o tema do Quarto Mandamento da Lei da Igreja: "Jejuar e abster-se de carne, conforme manda a Santa Mãe Igreja" e, então, o que manda a Igreja? É o Código de Direito Canônico quem dá as orientações:

  • "Cân. 1249 Todos os fiéis, cada qual a seu modo, estão obrigados por lei divina a fazer penitência; mas, para que todos estejam unidos mediante certa observância comum da penitência, são prescritos dias penitenciais, em que os fiéis se dediquem de modo especial à oração, façam obras de piedade e caridade, renunciem a si mesmos, cumprindo ainda mais fielmente as próprias obrigações e observando principalmente o jejum e a abstinência, de acordo com os cânones seguintes.

  • Cân. 1250 Os dias e tempos penitenciais, em toda a Igreja, são todas as sextas- feiras do ano e o tempo da quaresma.

  • Cân. 1251 Observe-se a abstinência de carne ou de outro alimento, segundo as prescrições da Conferência dos Bispos, em todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincidam com algum dia enumerado entre as solenidades; observem-se a abstinência e o jejum na quarta-feira de Cinzas e na sexta-feira da paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.

  • Cân. 1252 Estão obrigados à lei da abstinência aqueles que tiverem completado catorze anos de idade; estão obrigados à lei do jejum todos os maiores de idade até os sessenta anos começados. Todavia, os pastores de almas e os pais cuidem que sejam formados para o genuíno sentido da penitência também os que não estão obrigados a lei do jejum e da abstinência, em razão da pouca idade.

  • Cân. 1253 A Conferência dos Bispos pode determinar mais exatamente a observância do jejum e da abstinência, como também substituí-la, totalmente ou em parte, por outras formas de penitência, principalmente por obras de caridade e exercícios de piedade."

Resumindo:

O jejum consiste numa refeição completa e duas menores, que juntas são menos que uma refeição inteira. [c.1252]. O jejum é prescrito apenas na 4ª Feira de Cinzas e Sexta-Feira Santa, ou seja, 1 primeiro e último dia da Quaresma.

A abstinência consiste em abster-se de comer carne de animais de sangue quente, molhos ou sopa de carne nos dias de abstinência. A abstinência é prescrita para Quarta-Feira de Cinzas, Sexta-Feira Santa e todas as sextas-feiras do ano, a não ser que coincida com um dia de Guarda [c.1252] , de modo particularíssimo nas sextas-feiras da Quaresma.

Claro, que isto não significa que só podemos ou devemos fazer penitências nos dias prescritos pela Santa Madre Igreja. Apenas significa que nesses dias temos mesmo que fazer penitência. Os outros dias ficam entregues à decisão de cada um, ao seu amor, à sua determinação de ser santo, de mais amar Deus e os homens. Seja como for, a penitência faz parte de um caminho espiritual. Ninguém percorre um caminho a partir do ponto de chegada. Pelo contrário, é desde o inicio e caminhando, mas só chega quem não desiste. E o que conta não é o tamanho da penitência, mas o amor e a verdade com que se faz, como nos ensina Santa Teresinha do Menino Jesus:

“Sim, meu Bem-amado! Assim se consumirá a minha vida... Não tenho outro meio de Te provar o meu amor, senão o de lançar flores, isto é, não deixar escapar nenhum pequeno sacrifício, nenhum olhar, nenhuma palavra; aproveitar todas as mais pequenas coisas e fazê-las por amor... Quero sofrer por amor e gozar por amor. Assim lançarei flores diante do teu trono. Não encontrarei nenhuma sem a desfolhar para Ti...” (in História de uma Alma)

Confiemos em Cristo. Com a graça de Deus tudo podemos. E que tudo se faça para maior honra e glória de Nosso Senhor Jesus Cristo e pela salvação das almas.

54 visualizações
bottom of page