Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus (Mt 1, 16.18-21.24a)
Jacó gerou José, o esposo de Maria, da qual nasceu Jesus, que é chamado o Cristo. A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo. Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: "José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados". Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado.
Celebrar hoje a solenidade São José, guardião do Redentor, é para todos nós, fiéis brasileiros, motivo de especial alegria não somente pela terníssima piedade com que os católicos de nossa terra sempre honraram a figura daquele a quem o Filho de Deus encarnado dignou-se chamar de pai, mas sobretudo por ocasião deste Ano Jubilar Mariano com que, em comemoração aos trezentos anos da aparição da imagem de Nossa Senhora da Conceição, a Igreja busca imprimir no coração de seus filhos mais profundos sentimentos de amor e confiança para com a Mãe do nosso divino Salvador. Visto à luz da festividade de hoje, o presente Jubileu é também motivo para nos lembrarmos de que, do mesmo modo como os pais do Senhor estiveram unidos pelo vínculo indissolúvel de um verdadeiro matrimônio (cf. Mt 1, 16; 19, 6), assim também a devoção a São José encontra-se de tal maneira unida à de sua Santíssima Esposa que é de todo impossível ter "uma devoção profunda e autêntica a Maria sem sentir também uma veneração especialíssima por seu virginal esposo".
E disto nos podemos dar conta se, contemplando agora aquela vida escondida em Nazaré, tivermos em mente que, depois de Cristo, nenhuma outra alma amou tanto a Virgem Imaculada quanto aquele escolhido, por inefável providência, para ser o protetor de sua castidade e a mais fiel testemunha de sua intocável virgindade. Este amor singular de São José para com a Mãe de Deus é, por sua vez, uma luz que nos permite entrever com ainda maior clareza qual seja a natureza da família humana. A caridade eminentíssima de São José, com efeito, pela qual ele se fez todo e inteiramente de Maria, nos mostra que a família, para além de sua base biológica, não é outra coisa senão uma aliança de amor em que um, esquecido de si, se dispõe a tudo entregar pelo bem do outro. Assim, pois, vemos as Escrituras retratarem a este santo Patriarca, que, sem nunca pensar em si mesmo, se dedicou a proteger com sumo carinho e solicitude diária a sua Esposa e ao Divino Infante, procurando com seu próprio trabalho tudo quanto fosse necessário ao bem-estar de ambos; livrou da morte a vida ameaçada do Menino Jesus pela inveja do ímpio Herodes, encontrando-lhe um esconderijo seguro; fez-se, enfim, companhia constante e apoio fiel de Jesus e de Maria nos incômodos da viagem ao Egito e nas asperezas do exílio.
Todos esses exemplos nos mostram que São José, do qual nenhuma palavra nos chegou, foi um homem "sem identidade", porque foi um homem dedicado exclusivamente aos demais. Não tinha planos e projetos pessoais; não pensava em seu descanso e comodidade; pouco lhe importavam as dificuldades e durezas de uma vida de trabalho modesto e sem brilho. Uma só coisa lhe ocupava o coração: Jesus e Maria, este duplo e tão caro tesouro — como diz uma conhecida oração — que o Pai lhe confiara. Que o modelo de esquecimento próprio e abnegação do santíssimo esposo de Nossa Senhora nos estimule, ao longo desta Quaresma, a pedirmos a Deus com incessantes orações a graça de, com um coração renovado pela graça, vivermos totalmente para os outros, nos quais o Filho do Homem, por arcano desígnio de sua providência, se faz presente e espera ser amado (cf. Mt 25, 35-40). Aproveitemos, por fim, este Jubileu Mariano para, crescendo a cada dia na devoção à nossa Mãe do Céu e imitando as virtudes de seu virginal marido, não termos outro amor maior do que Jesus e Maria.