Morreu hoje, aos 79 anos, Sua Eminência, o Cardeal Carlo Caffarra, Arcebispo Emérito de Bolonha. Descanse em paz!
Sua Eminência foi nomeado, em 1980, pelo Papa João Paulo II, Perito no Sínodo dos Bispos sobre o Matrimónio e a Família, e em janeiro de 1981 conferiu-lhe o mandato de fundar e presidir o Pontifício Instituto para Estudos sobre Matrimónio e Família. Esteve à frente da Arquidiocese de Bolonha durante 12 anos, de 2003 a 2015, após ter sido bispo de Ferrara; foi criado cardeal em março de 2006 pelo Papa Bento XVI.
O Cardeal Robert Sarah, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, escreveu hoje no Twitter: "Morreu o Cardeal Caffarra. Quero render homenagem a um grande servidor da Igreja, amigo de João Paulo II, teólogo extraordinário".
Numa conversa com Marco Ferraresi de "La Nuova Bussola Quotidiana" em Maio de 2016, entre outras revelações, o Cardeal Caffarra falou sobre uma carta que a Irmã Lúcia, vidente de Fátima, lhe enviou em resposta a uma sua na qual pedia orações pelo Instituto "João Paulo II" que se estava a consolidar. A seguir reproduzimos alguns trechos da entrevista em que se fala da actual crise de identidade da família:
– Numa perspectiva de Fé, não há também causas sobrenaturais (para a crise de identidade da família)?
– Em 1981 estava fundado, pela vontade de João Paulo II, o Instituto para Estudos sobre o Matrimônio e a Família. A fundação estava prevista para o dia 13 de maio, data da primeira aparição da Virgem de Fátima. O Papa, nesse dia, foi vítima do atentado do qual saiu milagrosamente vivo pela graça - segundo palavras do próprio Pontífice - da Virgem. Uns anos depois de fundar o Instituto escrevi à Irmã Lúcia, a vidente de Fátima, para pedir-lhe que rezasse pela obra e acrescentando que não esperava uma resposta da sua parte. Mas a resposta chegou.
– O que lhe respondeu?
– Irmã Lúcia escreveu - e quero sublinhar que estamos a falar do princípio dos anos 80 - que chegaria o tempo de uma “luta final” entre o Senhor e Satanás. E que o terreno desta luta seria o matrimônio e a família. Acrescenta que todos os que estariam envolvidos combatendo a favor do matrimônio e da família seriam perseguidos, mas que não deviam ter medo porque a Virgem já tinha esmagado a cabeça da serpente infernal.
– Palavras proféticas: é o que está a acontecer?
– Vivemos uma situação inédita. Nunca tinha acontecido que se redefinisse o matrimônio. É Satanás, que desafia a Deus, como a dizer: “Estais vendo? Vós propondes a Vossa criação. Mas eu Vos demonstro que constituo uma criação alternativa. E verás que os homens dirão: estamos melhor assim”.
Todo o arco da criação se sustenta, segundo a Escritura, em dois pilares: o matrimônio e o trabalho humano. Este segundo pilar não é agora o nosso tema, ainda que esteja a ser submetido a uma “crise definidora”; no que concerne ao matrimônio, em troca, este tem sido institucionalmente destruído.
– A Igreja pode responder a este desafio?
– Tem que responder, por razões que chamaria estruturais. A Igreja interessa- se pelo matrimônio porque o Senhor o elevou a Sacramento. É Cristo mesmo une aos esposos.
Cuidado, não é uma metáfora: segundo as palavras de São Paulo, no matrimônio o vínculo entre os esposos se enxerta no vínculo esponsal entre Cristo e a Igreja, e vice-versa. A indissolubilidade não é antes de tudo uma questão moral (“os esposos não devem separar-se”), mas ontológica: o Sacramento obra uma transformação nos cônjuges. De modo que, como diz a Escritura, já não são dois, mas um. Isto está expresso claramente na ‘Amoris Laetitia’ (parágrafos 71-75).
O sacramento, ainda, infunde nos esposos a caridade conjugal. E disto falam claramente os capítulos IV e V da Exortação. Além disso, o Sacramento constitui aos esposos um Estado de vida pública na Igreja e na sociedade. Como qualquer Estado de vida na Igreja, também o estado conjugal tem uma missão: o dom da vida, que continua na educação dos filhos. Aqui o capítulo VII da ‘Amoris Laetitia’ preenche, na minha opinião, uma lacuna que havia no debate dos Bispos durante o Sínodo.
– Na prática, o que deveria fazer a Igreja?
– Somente uma coisa: comunicar o Evangelho do matrimônio. Tenho dito “comunicar” porque não se trata somente de um acontecimento linguístico. A comunicação do Evangelho significa sanar o homem e a mulher da sua incapacidade de amar-se, e introduzi-los no grande Mistério de Cristo e da Igreja. Esta comunicação tem lugar através do Anúncio e da catequese. E através dos sacramentos. Têm havido pessoas que depois de uma catequese sobre o sacramento do matrimônio se aproximaram para dizer-me: “Por que é que ninguém me falou destas maravilhosas realidades?”. Os jovens devem ser, principalmente, o centro da nossa preocupação. A questão educativa nesta matéria é “a” questão decisiva. O Papa fala disso extensamente nos parágrafos 205-211.
Rezemos pela sua alma:
Pai Santo, Deus Eterno e Todo-Poderoso, nós Vos pedimos por aqueles a quem chamastes deste mundo (hoje particularmente o Cardeal Caffarra). Dai-lhes a felicidade, a luz e a paz. Que eles, tendo passado pela morte, participem do convívio de Vossos santos na luz eterna, como prometestes a Abraão e à sua descendência.
Que a sua alma nada sofra, e Vos digneis ressuscitá-los com os Vossos santos no dia da ressurreição e da recompensa.
Perdoai-lhes os pecados, para que alcancem junto a Vós a vida imortal no Reino Eterno.
Por Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Amém.
(Rezar Pai-Nosso e Ave-Maria)
Dai-lhes, Senhor, o repouso eterno
e brilhe para eles a vossa luz! (3 vezes).