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HISTÓRIA DA PECADORA CONVERTIDA QUE MORREU DE AMOR


A conversão da donzela que tivera a desgraça de se entregar ao pecado, foi um dos frutos da caridade do Venerável João, o Anão. A história é edificante e muito própria para inspirar aos maiores pecadores confiança na misericórdia do Senhor, quando voltam sinceramente a Ele. Esta donzela chamava-se Paésia,. Perdera, quando jovem, o pai e a mãe; e querendo empregar os bens em boas obras, fizera da sua casa um hospício para os solitários de Sceté, que vinham a estes bairros, aparentemente para ali venderem os trabalhos dos irmãos.

Mas como julgou que esta caridade lhe ficava muito dispendiosa, não prestando atenção ao tesoiro que assim se preparava no Céu, aborreceu-se com isso, e não faltaram pessoas que a confirmassem nesta mudança de atitude. Em breve foram mais longe com maus conselhos; tiraram-lhe todo o gosto pela virtude e finalmente ela abandonou-se completamente ao pecado.

Não foi sem grande dor que os solitários de Sceté souberam da sua queda; e empregaram todos os meios que a caridade lhes inspirou para a tirarem do abismo em que tinha precipitado a alma. Finalmente, dirigiram-se a João, o Anão, e pediram-lhe que a fosse visitar a fim de procurar, pelo dom da sabedoria que Deus depositara nele, reconduzi-la a Jesus Cristo.

Ele foi, mas mal se apresentou à porta, recusaram-lhe entrada, acusando-o insultuosamente de que os solitários tinham arruinado a sua protectora. Contudo, ele não desanimou, mas persistiu em pedir que o deixassem falar-lhe, e que ela não teria motivo nenhum para de tal se arrepender. Por fim, conduziram-no ao quarto.

Sentou-se junto dela e perguntou-lhe se tinha alguma razão para se queixar de Jesus Cristo, para assim O ter abandonado, reduzindo-se ao estado deplorável em que sabia que se encontrava.

Estas primeiras palavras atingiram-na profundamente, e fizeram-lhe viva impressão no coração. O Santo, deixando agir a graça, calou-se por alguns momentos e derramou muitas lágrimas. Ela perguntou-lhe porque chorava.

— Ah!, respondeu, como não hei-de chorar, ao ver quanto o demônio vos enganou e se aproveitou de vós?

A essas palavras, a donzela, dominada pelo terror e pelo horror do seu pecado, e disse-lhe:

— Padre, haverá ainda penitência para mim?

— Sim, respondeu o santo, eu vo-lo asseguro — Então levai-me para qualquer lugar que achardes bom para isso, disse ela.

Ele levantou-se imediatamente e ela seguiu-o sem dar nenhuma ordem em casa, sem mesmo dizer uma só palavra a ninguém. O que o Santo notou com grande consolação, reconhecendo assim que estava completamente dominada pelos sentimentos da conversão e que abandonava tudo para se entregar inteiramente às práticas da penitência.

Não se sabe aonde é que ele tinha intenção de a conduzir. Aparentemente seria para qualquer mosteiro de donzelas. Mas como tinham entrado no deserto e a noite se aproximava, João fez um monte de areia à maneira de travesseiro, que marcou com o sinal-da-cruz, e disse a Paésia para se deitar ali.

Em seguida, afastou-se também um pouco para dormir, depois de ter rezado. Mas, acordando à meia-noite, viu um raio de luz que descia do Céu sobre Paésia, e que servia de caminho a vários Anjos que lhe levavam a alma para o Céu.

Na surpresa que lhe causou a visão, levantou-se imediatamente, aproximou-se da donzela e tocou-lhe com o pé, para ver se estava morta, e verificou efectivamente que ela tinha entregado a sua alma a Deus. Ao mesmo tempo, ouviu uma voz miraculosa que lhe disse: “a penitência de uma hora foi mais agradável a Deus do que a que outros fazem durante muito tempo porque não a fazem com tanto fervor como ela”.

Vida dos Padres dos Desertos do Oriente,

Pe. Michel -Ange Matin

Paris, Lião, 1824

O Venerável João, o Anão.

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