Expliquei antes que é a vontade que faz o homem sofrer (14.9). Os meus servidores não sofrem, porque se despojaram da vontade própria e se revestiram da Minha. Eles vivem contentes, sentem a Minha Presença em suas almas. Mesmo que possuíssem o mundo inteiro, não seriam felizes se Eu estivesse ausente.
As realidades terrenas são menores que o homem, para ele foram criadas, não vice-versa. Por tal motivo os bens materiais não satisfazem; somente Eu sou capaz de saciar o homem. Já os infelizes pecadores, como cegos, afadigam-se continuamente, à procura de uma felicidade fora de Mim. E sofrem.
Queres saber como sofrem? Quando alguém perde algo, com o que se identificara, o seu apego faz sofrer. É o que acontece com os pecadores, identificados por vários modos com os bens materiais. Eles se materializam. Uns identificam-se com a riqueza, outros com a posição social, outros com os filhos; uns afastam-se de Mim por apego a uma pessoa; outros transformam o próprio corpo em animal imundo e impuro. Todos eles assim se nutrem de bens terrenos. Gostariam que tais realidades fossem duradouras, mas não o são. São perdidas por ocasião de mortes ou de outros acontecimentos por Mim dispostos. Diante de tal perca, os pecadores entram em sofrimento atroz, pois a dor da separação compara-se à desordenada afeição à posse.
Se os pecadores usassem os bens materiais enquanto emprestados, sem nenhum sofrimento os perderiam. Angustiam-se, por não mais ter o que amavam. O mundo não dá a felicidade total; não se sentindo inteiramente saciados, os pecadores sofrem. Quanta ilusão produz, por exemplo, o remorso; como se martiriza quem deseja vingar-se! O homem desejoso de vingança corrói-se e morre antes mesmo de matar o inimigo. O primeiro morto é ele mesmo. Mata-se com o punhal do ódio. Quantos padecimentos no ganancioso, que multiplica ao extremo as suas necessidades. E o invejoso, a morder-se no próprio coração; jamais se alegra com a felicidade alheia, angustia-se por falsos temores em tudo quanto se apega. Todos estes carregam-se com a cruz do diabo e experimentam nesta vida a certeza da condenação. Vivem diversamente doentes e, se não se corrigirem, vão depois para a morte eterna.
São homens feridos pelos espinhos das contradições, a torturarem-se interna e externamente. E por cima, sem merecimento algum! Sofrem na alma e no corpo, nada merecem; é sem paciência que padecem esses males. Vivem revoltados, apegando-se aos bens materiais com desordenado amor. Não possuem a graça e a caridade, são árvores mortas (v. 14.2) que produzem frutos mortíferos. Vão-se afogando na dor pelo rio do pecado; cheios de ódio entram pela porta do diabo; atingem as águas mortas e chegam à condenação!
In O Diálogo – Santa Catarina de Sena