Que grande coisa é chegar à hora da morte e ver que vamos ser julgados por Aquele a quem amamos sobre todas as coisas. (...)
Lembrai-vos aqui, minhas filhas, do lucro que este amor traz consigo! Mas lembrai-vos também da perda de não o ter, porque ela deixa-nos nas mãos do tentador, mãos tão cruéis, mãos estão inimigas do bem e tão amigas do mal.
O que será de pobre alma que, apenas acabada de sair de tais dores e trabalhos como são os da morte, cai logo nelas? Que mau descanso a espera! Irá despedaçada para o inferno! Uma multidão de serpentes de toda a espécie! Que lugar terrível! Que infeliz hospedagem! Se uma noite passada numa má pousada é difícil de suportar a uma pessoa que gosta de conforto — e devem ser assim a maioria dos que vão para lá — o que não sentirá, pergunto-vos eu, aquela triste alma numa pousada que é para sempre, sem fim?
Oh, filhas, não queiramos confortos. Estamos bem aqui. No fim de contas, a má pousada é só uma noite. Louvemos a Deus, e esforcemo-nos por fazer penitência nesta vida. Quão doce não será a morte de quem já espiou todos os seus pecados e não tem de passar pelo Purgatório! Até poderá acontecer que comece ainda neste mundo a gozar da Glória! Nesse caso, não encontrará em si temor algum, mas a totalidade da paz.
E se não chegarmos a isto, irmãs, peçamos a Deus que, se tivermos de padecer logo as penas, seja num lugar onde, com a esperança de sair delas, as soframos de boa vontade e onde não percamos a Sua amizade e graça, e que no-la dê nesta vida para não andarmos em tentação sem o sabermos.
Santa Teresa d'Ávila
in Caminho de Perfeição