Mais tarde ouvil-lo-emos explicar o segredo da vida interior de sua juventude. "É mister, dirá numa de suas catequeses, oferecer a Deus o nosso trabalho, o nosso repouso e os nossos passos. Oh! como é belo fazer tudo por Deus. Vamos, minha alma. Se tu trabalhas com Deus és tu que trabalhas, mas é Deus que abençoa o teu trabalho. De tudo tomará nota; a privação de um olhar, duma satisfação, tudo será anotado. Há pessoas que sabem aproveitar-se de tudo, mesmo do inverno. Faz frio; oferecem a Deus os pequenos sofrimentos. Como é bom oferecer-se a Deus toda as manhãs em sacrifício. Desse modo João Maria, no campo e em casa, santificava a sua alma; tinha sempre presente um mundo invisível. Mas com isso não se tomava indolente e sonhador, era de compleição robusta e o temperamento inclinava-o para a acção. Certo dia, pouco depois da primeira comunhão, foi com Francisco trabalhar na vinha. Quis emparelhar com o irmão, rapaz de 15 anos; à tarde voltou para casa extenuado, abatido. "Estou cansado, disse à mãe, porque quis acompanhar Francisco".
- Francisco - disse a mãe magoada - não andes tão depressa, mas ajuda-o um pouco. Bem vês que ele é mais fraco do que tu.
- Oh! - replicou Francisco calmamente - João Maria não está obrigado a fazer tanto como eu. Que diriam se o mais velho não adiantasse mais no trabalho?
No dia seguinte - foi Margarida Vianney que conservou tão interessantes recordações - uma irmã de Antiquaille de Leon veio a nossa casa. Deu-nos a cada um uma imagem. Trazia uma pequena estátua da Virgem Santíssima encerrada num estojo. Todos a queríamos. Deu-a, porém, a João Maria. No dia seguinte foi trabalhar como de costume com Francisco. Antes de pegar no serviço, beijou devotamente os pés da imagem, colocando-a mais adiante, a certa distância. Quando chegou ao lugar onde estava, tomou-a respeitosamente e fez como na primeira vez ... De regresso a casa, disse à mãe: "Terei sempre confiança na Virgem. Hoje invoquei-a e se dignou a ajudar-me. Já posso acompanhar no trabalho a Francisco sem sentir cansaço algum". João Maria e Francisco andaram parelhos por espaço de 8 dias. Trabalharam em silêncio como os trapistas. Para não incomodar Francisco, João Maria rezava em voz baixa ou mentalmente. "Eia - pensava ele ao dar uma enxadada - é preciso que assim cultives a tua alma, é preciso arrancar a erva daninha, a fim de prepará-la para a boa semente". Mas quando se achava só no campo, abria o coração a todas as efusões; misturando a sua voz com o gorjeio dos pássaros recitava preces e entoava piedosos cânticos. Costumava desde a infância saudar a Virgem a cada hora que soava, ajuntando à Ave-Maria a piedosa fórmula: Deus seja Bendito! Coragem, minha alma! O tempo passa! A eternidade se aproxima. Vivamos tal como devamos morrer. Bendita seja a Imaculada Conceição de Maria, Mãe de Deus".
In O Santo Cura d'Ars, de Francis Trochu