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POR QUE TENHO QUE CONTAR OS MEUS PECADOS A UM PADRE?


Algumas das objeções que são feitas para não recorrer ao sacramento da Penitência consistem em dizer que "não é necessário contar os nossos defeitos a outro pecador" ou que "basta confessar os próprios pecados diretamente a Deus".

Essa recusa em procurar a Confissão nasce de um escândalo tipicamente protestante. Certas pessoas não se conformam com o facto de que Deus usa instrumentos humanos para redimir a humanidade: usou Maria para trazer o Seu Filho ao mundo; usou os Apóstolos para transmitir os Seus ensinamentos às nações; e, ainda hoje, usa as mãos dos bispos e sacerdotes – que são os sucessores dos Doze – para trazer a Sua presença e o Seu perdão aos fiéis. É impossível não recordar as passagens dos Evangelhos em que Jesus perdoava os pecados às pessoas, e os escribas, desconfiados, pensavam que Ele blasfemava. Formados na ciência das Escrituras, estes sabiam bem que só Deus podia perdoar os pecados. Ao mesmo tempo, porém, ignoravam não só a divindade de Jesus, como não aceitavam que Ele pudesse conceder o poder do perdão também aos seres humanos (cf. Mt 9, 8).

Foi justamente o que fez Nosso Senhor quando, depois da ressurreição, reunidos os Doze, disse-lhes: "Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, serão perdoados; a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos" ( Jo 20, 23). Com isso, Ele confirmava o poder das chaves, dado aos Apóstolos (cf. Mt 28, 16-20), deixando bem claro que "a reconciliação com a Igreja é inseparável da reconciliação com Deus".

É o que diz um belo sermão, que consta num recente Ofício das Leituras, de autoria do bem-aventurado Isaac, abade do mosteiro de Stela. Na Liturgia das Horas, o texto do século XI leva um título sugestivo: Cristo não quer perdoar nada sem a Igreja. O raciocínio desse escritor eclesiástico é bem simples: "Pertence somente a Deus perdoar os pecados", escreve ele . "Mas, tendo desposado o omnipotente a fraqueza, o excelso, a humildade, da escrava fez uma rainha; aquela que estava atrás, a seus pés, colocou-a a seu lado".

Tratando Cristo e a Igreja sob a perspectiva da união que existe entre eles – e que São Paulo denomina como um "grande mistério" ( Ef 5, 32) –, o abade Isaac aplica a este "matrimônio" as palavras de Cristo: "O que Deus uniu o homem não separe" (Mt 19, 6), e conclui:

"Portanto, sem Cristo nada pode a Igreja perdoar; nada quer Cristo perdoar sem a Igreja. A Igreja não pode perdoar a não ser ao penitente, isto é, àquele a quem Cristo tocou. Cristo não quer ter por perdoado aquele que despreza a Igreja. (...) Não queiras, pois, tirar do corpo a cabeça, de forma que em parte alguma haja o Cristo total: nem em parte alguma, o Cristo total sem a Igreja nem a Igreja toda sem Cristo em parte alguma. Pois Cristo completo e íntegro, entende-se cabeça e corpo, por isto diz: Ninguém subiu ao céu a não ser o Filho do homem que está no céu (Jo 3, 13). É este o único homem que perdoa os pecados."

Note-se a precisão das palavras: a Igreja não pode ( nihil potest) perdoar sem Cristo; Jesus, ao contrário, sendo Deus, até pode perdoar sem a Igreja, mas não quer (nihil vult) fazer isso. Ninguém põe em discussão que Deus tem potestade para salvar como quer; nenhum católico questiona o fato de que Ele pode perdoar os pecados como bem entende. Porém, quando mandou o Seu Filho ao mundo desposando a miserável carne humana, Ele a escolheu como instrumento de redenção; quando concedeu aos Seus discípulos o "ministério da reconciliação" (2 Cor 5, 18), quis que a remissão dos pecados fosse concedida aos homens pelas mãos frágeis e humanas dos padres da Igreja.

Assim como no tempo de Cristo, nenhum homem tem poder para perdoar os pecados. Quando os sacerdotes católicos repetem, em toda Confissão: "Eu te absolvo dos teus pecados, em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo", eles agem " in persona ipsius Christi – na pessoa do próprio Cristo". Nas mãos sacerdotais que traçam sobre nós o sinal da cruz, estão as próprias mãos chagadas do Redentor, apagando os nossos pecados e ressuscitando as nossas almas.

Cristo está vivo e atuante na Sua Igreja. Não queiramos separar o que Ele uniu. Aproximemo-nos com confiança do sacramento da Confissão – atendendo ao pedido do Papa Francisco – e recebamos a alegria do perdão e a paz da consciência!

in Christo Nihil Praeponere

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