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O CALVÁRIO E A MISSA - PARTE II


Apresentamos a segunda parte da tradução do prólogo do livro "Calvary and the Mass" do Venerável Bispo Fulton J. Sheen.

O que é importante, neste ponto, é que assumamos a adequada atitude mental diante da Missa, e nos lembremos deste importante facto, que o Sacrifício da Cruz não é algo que aconteceu há dezanove séculos. Ele ainda está a acontecer. Não é algo que aconteceu no passado como a assinatura da Declaração de Independência; é um drama permanente no qual a cortina ainda não foi baixada. Não deixemos que se pense que tudo já aconteceu há muito tempo, e, dessa forma, não diz mais nada a não ser como algo no passado. O Calvário pertence a todos os tempos e a todos os lugares. É por isso que, quando Nosso Senhor subiu às alturas do Calvário, foi oportunamente despojado das Suas vestes: Ele salvaria o mundo sem os ornamentos de um mundo passageiro. As Suas vestes pertenciam ao tempo, porque elas O localizavam, e O fixavam como um habitante da Galileia. Agora que Ele foi despojado delas e completamente despojado de coisas terrestres, Ele não pertence mais à Galileia, nem a uma província romana, mas ao mundo. Ele tornou-se o pobre universal do mundo inteiro, pertencendo não a um povo, mas a todos os homens.

Para expressar melhor a universalidade da Redenção, a cruz foi levantada na encruzilhada da civilização, num ponto central entre as três grandes culturas de Jerusalém, Roma e Atenas, em nome das quais Ele foi crucificado. A cruz foi, dessa forma, afixada como um sinal diante dos olhos dos homens, para arrebatar o indolente, cativar o insensato e seduzir o mundano. Foi o único facto ineludível, ao qual as culturas e as civilizações do Seu tempo não puderam resistir. É também o único facto ineludível do nosso tempo, ao qual não podemos resistir.

As personagens na Cruz são símbolos de todos os que crucificam. Nós estávamos lá nos nossos representantes. O que nós fazemos agora para o Cristo Místico, eles fizeram em nossos nomes para o Cristo histórico. Se nós temos inveja dos bons, nós estávamos lá nos escribas e nos fariseus. Se temos medo de perder alguma vantagem temporal ao abraçarmos o Divino Amor e a Verdade, estivemos lá em Pilatos. Se confiamos nas forças materiais e buscamos conquistar por meio do mundo ao invés do espírito, estivemos lá em Herodes. E a história continua nos pecados comuns do mundo. Todos eles nos tornam cegos para o facto de que Ele é Deus. Existe, então, um tipo de certeza inevitável sobre a Crucifixão. Os homens que são livres para pecar são também livres para crucificar.

Enquanto houver pecado no mundo a Crucifixão é uma realidade. Como o poeta colocou:

"Eu vi o filho do homem a passar, Coroado com uma coroa de espinhos. 'Não estava terminado Senhor', disse eu, 'E todo o sofrimento carregado?' "Ele voltou para mim o seu olhar tremendo: 'Ainda não entendeste? Toda alma é um Calvário e todo pecado é um madeiro".

Nós estávamos lá durante a Crucifixão. O drama já foi completado no que concerne à visão de Cristo, mas ainda não foi desfraldado para todos os homens, de todos os lugares e em todos os tempos. Se o rolo de um filme, por exemplo, tivesse consciência de si mesmo, ele saberia o drama do início ao fim, mas os espectadores no cinema não saberiam até que tivessem visto o filme a desenrolar-se na tela.

De maneira parecida, nosso Senhor na Cruz viu, na Sua mente eterna, o drama todo da história, a história de cada alma, e de como, mais tarde, ela reagiria à sua Crucifixão; mas embora Ele tenha visto tudo, nós não poderíamos saber como reagiríamos à Cruz até que nós fossemos desenrolados na tela do tempo. Nós não tivemos consciência de estar presentes no Calvário naquele dia, mas Ele estava consciente da nossa presença. Hoje nós sabemos o papel que desempenhamos no drama do Calvário, apesar de que vivemos e actuamos agora no drama do século vinte.

Por isso o Calvário é actual; porque a Cruz é Crise; porque num certo sentido as chagas ainda estão abertas; porque a Dor ainda permanece deificada, e porque o sangue, como estrelas cadentes, está ainda a gotejar sobre as nossas almas. Não há escapatória da Cruz nem mesmo através da sua negação, como fizeram os fariseus; nem mesmo vendendo Cristo, como Judas fez; nem mesmo crucificando-O como fizeram os executores. Nós todos vemos isso, quer abraçando a cruz como salvação, quer fugindo dela até à desgraça.

Mas, como isso se tornou visível? Onde acharemos o Calvário perpetuado? Nós acharemos o Calvário renovado, revivido, representando, assim como nós vemos, na Missa. O Calvário é um só com a Missa, a Missa é uma só com o Calvário, pois em ambos existe o mesmo Sacerdote e a mesma Vítima.

Imagine então o Sumo Sacerdote Cristo deixando a sacristia do céu para o altar do Calvário. Ele já colocou a túnica da nossa natureza humana, o manípulo do nosso sofrimento, a estola do sacerdócio, a casula da Cruz. O Calvário é sua catedral; a rocha do Calvário é a pedra do altar; o sol avermelhado é a lâmpada do santuário; Maria e João são os altares laterais vivos; a Hóstia é seu Corpo; o vinho é Seu Sangue. Ele em pé é o Sacerdote, mas prostrado é a Vítima. A Sua Missa está para começar.

In "Calvary and the Mass" do Venerável Bispo Fulton J. Sheen.

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