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POR QUE JESUS QUIS SER BAPTIZADO?


Se João Baptista pregava um baptismo de conversão e arrependimento, como aprendemos das Sagradas Escrituras (cf. Mt 3, 1-2), por que Jesus, que não tinha pecados nem precisava converter-se, quis ser baptizado por ele?

Recordemos, em primeiro lugar, a cena evangélica tal como a narra o evangelista S. Mateus:

 

Da Galileia foi Jesus ao Jordão ter com João, a fim de ser baptizado por ele. João recusava-se: “Eu devo ser baptizado por Ti e Tu vens a mim!” Mas Jesus respondeu-lhe: “Deixa por agora, pois convém que cumpramos a justiça completa”. Então João cedeu. Depois que Jesus foi baptizado, saiu logo da água. Eis que os céus se abriram e viu descer sobre Ele, em forma de pomba, o Espírito de Deus. E do céu baixou uma voz: “Eis meu Filho muito amado em quem ponho a minha afeição” (Mt 3, 13-17).

 

Vejamos agora as consequências de ordem teológica que se depreendem deste episódio da vida de Nosso Senhor.

Antes de tudo, é preciso afirmar que, à semelhança de todas as outras obras de Deus, foi muito conveniente que Cristo fosse baptizado e recebesse o baptismo de João.

Santo Tomás de Aquino oferece-nos as seguintes razões para provar a conveniência do baptismo de Jesus (cf. S. Th. III, q. 39, a. 1, co.):

  1. Em primeiro lugar, Jesus, ao ser baptizado, purificou a água, deixando-a limpa com o contacto de sua carne santíssima e conferindo-lhe, assim, a virtude de santificar os que depois dele haviam de ser baptizados. Por isso, podemos dizer que Jesus foi baptizado, não para purificar-se, mas para purificar-nos.

  2. Além disso, embora Cristo não fosse pecador, assumiu a semelhança da carne de pecado, como diz S. João Crisóstomo, e quis, com o seu baptismo, que todo o velho Adão submergisse nas águas da regeneração.

  3. Por fim, Jesus, modelo de todas as virtudes e fiel cumpridor da Lei tanto antiga como nova, quis fazer Ele mesmo o que nós, por ordem Sua, estamos obrigados a fazer. Assim, serviu-nos de exemplo e estimulou-nos a receber o verdadeiro baptismo que Ele havia de instituir mais tarde.

E foi conveniente que o Senhor recebesse justamente o baptismo de João, e não o baptismo cristão e sacramental, porque, estando cheio do Espírito Santo desde o primeiro instante de sua concepção, não precisava receber o baptismo espiritual.

Desta forma, aliás, Jesus autorizava o baptismo de João como preparação para o verdadeiro baptismo e, como dito acima, nos estimulava com o seu exemplo a receber este último.

O baptismo do Senhor, além disso, foi acompanhado de uma série de circunstâncias e sinais muito chamativos. Também eles foram convenientes e oportunos. Vejamos um por um.

  • Quanto à idade, foi muito razoável que Cristo se baptizasse aos trinta anos, pois esta é a idade que, de um modo geral, se considera a mais perfeita, e foi nela que Jesus começou a pregar o Evangelho. Em todo caso, o baptismo cristão deve ser recebido logo após o nascimento, para que o recém-nascido não seja privado da graça nem corra o risco de morrer sem este sacramento tão necessário.

  • Quanto ao lugar, foi conveniente e muito simbólico que Jesus se baptizasse no rio Jordão, que os israelitas tiveram de atravessar para entrar na terra prometida. O baptismo de Cristo, com efeito, nos introduz na verdadeira terra prometida, que é o Reino dos Céus.

  • Além disso, foi muitíssimo oportuno que, durante o baptismo de Cristo, os céus se abrissem sobre ele, a fim de significar que, pelo baptismo cristão, nos são abertas as portas do reino celestial, fechadas ao primeiro homem por causa do pecado.

  • Foi também convenientíssimo que o Espírito Santo descesse sobre o Senhor em forma de pomba, para significar que todo aquele que recebe o baptismo de Cristo se converte em templo e sacrário do Espírito Santo, devendo, por isso mesmo, levar uma vida simples e pura como a de uma pomba.

  • Finalmente, foi conveniente que no baptismo de Cristo se ouvisse a voz do Pai manifestando o Seu agrado, uma vez que o baptismo cristão se realiza pela invocação e o poder da Santíssima Trindade, e no baptismo de Cristo se manifestou todo o mistério trinitário: a voz do Pai, a presença do Filho e a descida do Espírito Santo em forma de pomba.

Vale a pena notar ainda duas coisas. Em primeiro lugar, foi muito oportuno que Deus Pai se manifestasse pela voz, porque é próprio do Pai gerar o Verbo, que significa justamente “a Palavra”, de maneira que a própria voz emitida pelo Pai dá testemunho da filiação do Verbo.

Por fim, é preciso ter o cuidado de notar que a pomba que apareceu sobre Cristo simbolizava o Espírito Santo; mas de modo nenhum devemos crer que se tratava do próprio Espírito Santo manifestando-se de forma visível, pois Ele não assumiu nenhuma natureza corpórea, diferentemente do Verbo, que assumiu na unidade de sua Pessoa a natureza humana de Cristo.

Pe. Antonio R. Marín OP,

in Jesucristo y la Vida Cristiana.

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