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UMA GRAVE OMISSÃO


Oferecer aos doentes os últimos socorros da religião é não só um acto de caridade, mas também um dever sagrado do qual daremos conta na eternidade.

Detalhe de “Extrema Unção”, de Nicolas Poussin.

Constitui uma grave omissão não preparar convenientemente um parente enfermo, em caso de perigo de vida, para receber os santos sacramentos.

Oferecer aos doentes os últimos socorros da religião é não só um acto de caridade meritório aos olhos de Deus, mas também um dever sagrado que não se pode transgredir sem contrair uma séria responsabilidade. Se podemos ser culpados de homicídio por deixar alguém morrer de inanição, que nome daremos ao crime terrível de permitir que uma alma se condene por não a termos socorrido a tempo com os meios da nossa santa religião?

E, ainda assim, a experiência continua mostrando que este crime é cometido até mesmo por famílias católicas [1]! Seja por temor ou indesculpável fraqueza, o sacerdote só costuma ser chamado na última hora e, à vezes, quando o paciente já perdeu a consciência.

Não nos referimos aqui a famílias que esperam o paciente morrer e fazem da religião uma vã formalidade, puramente convencional. Não falemos de tamanha indignidade! Referimo-nos a famílias em que ainda há fé o suficiente para considerar os sacramentos como algo santo, a ponto de desejarem que o doente os receba com boas disposições; mas são famílias em que jamais se menciona a Confissão até que se tenha perdido toda esperança de melhora.

E o que costuma acontecer neste casos? A família hesita, vacila, adia; os sintomas, porém, estão aí, incontestáveis. Começa-se a buscar às pressas um sacerdote, mas ele acaba por chegar tarde demais. Está tudo acabado… Que Deus não permita que você seja tratado de tal maneira na hora da morte!

Mas o que, afinal, impede as nossas famílias de cumprir essa missão sagrada? “Tenho medo de tocar no assunto”, dirá alguém. “Receio que a palavra ‘padre’ crie pânico e desespero”. Ora, mesmo que o doente pule de medo, vamos deixá-lo exposto ao perigo de ser condenado por toda a eternidade ou de padecer longamente no Purgatório? Não tenhamos medo de assustar! Se um amigo seu estivesse adormecido na beira de um abismo ou numa casa em chamas, você deixaria de acordá-lo só por receio de assustá-lo um pouco?

Que nome daremos ao crime terrível de permitir que uma alma se condene por não a termos socorrido a tempo com os meios da nossa santa religião?

Dizem essas famílias que pretendem, sim, chamar um padre, mas só quando o doente o quiser. Acaso se esqueceram que os doentes quase nunca se dão conta do estado em que se encontram? É nosso dever prepará-los para receber ajuda religiosa. Não percamos tempo. Entremos em contacto com a nossa paróquia ou com um padre conhecido que nos possa ajudar a cumprir este grave dever.

Não demos importância a esta preocupação falsa e tola de que o paciente “morrerá de medo” só de ouvir falar em sacramentos.

O paciente sabe muito bem, como demonstra a experiência, que o sacerdote estará ali, ao seu lado, para cumprir o mais doce e útil ministério, para purificar e consolar a sua alma, para lhe dar finalmente, no meio da mais cruel das angústias, a paz e a doçura de Jesus Cristo.

Por isso, o primeiro passo a dar quando o paciente estiver em perigo é chamar sem demora um padre diocesano ou um confessor, a fim de administrar os sacramentos da Confissão, da Eucaristia e da Unção dos Enfermos, além de aplicar a indulgência plenária que se concede aos que estão in articulo mortis, ou seja, a ponto de morrer.

In Christo Nihil Praeponere

 
Referências
  1. “É inacreditável”, escreve um teólogo a esse respeito, “a cegueira de tantas famílias que se dizem cristãs, mas que, na hora de manifestar o máximo amor e prestar o maior serviço aos entes queridos, salvando-lhes a alma, se vêm apoderadas com tal veemência do medo de ‘assustar’ que não vacilam em deixá-los morrer privados dos santos sacramentos, que eram talvez absolutamente necessários para a sua eterna salvação. É um crime monstruoso, que não ficará sem grande castigo de Deus, neste mundo ou no outro, sem que possa servir de desculpa o carinho mal entendido que se sentia por aquele familiar, a quem não não se teve receio de sepultar para sempre no inferno ao invés de lhe dar um pequeno susto que lhe teria aberto as portas do céu por toda a eternidade” (Antonio R. Marín, Teología de la Caridad. Madrid: BAC, 1960, p. 427, n. 331).

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