O maior problema é na verdade uma confusão entre os vários significados das palavras. Assistir e participar podem querer dizer coisas diferentes; “assistir” pode ser “ajudar” (como um “assistente”) e pode ser “ver passivamente”, e “participar” pode ser compreendido como uma ação ativa (“participo de uma equipa de futebol”) ou como receber uma perfeição (a cerveja gelada “participa” do gelo, sem ser gelo; a palavra “gelada” é aliás o particípio do verbo “gelar”).
A Igreja chama-nos à participação no sentido de receber uma perfeição, e é neste sentido que receber o Santíssimo Sacramento é a maior participação. Estamos assim a participar de Cristo, ou seja, a receber d’Ele uma perfeição. Esta participação pode (mas não precisa) ser expressa exteriormente (o primeiro sentido que dei desta palavra). Assim, por exemplo, não é necessário responder na Missa. Por exemplo, é melhor participar silenciosamente que responder alto e não participar verdadeiramente. O sujeito que está a cantar aos brados pode perfeitamente não estar a participar, por não estar a unir o seu sacrifício ao de Cristo na Cruz.
Já assistir como quem assiste passivamente a um jogo de futebol não é ao que a Igreja nos chama, mas assistir como “assistente”, ou seja, unir o nosso sacrifício ao de Cristo, que é oferecido pelo sacerdote, é o “assistir” que a Igreja nos pede e recomenda.
Assim, não se trata de uma escolha entre assistir passivamente e participar fisicamente. É na verdade – como aliás em quase tudo – uma escolha muito mais subtil, em que o caminho certo é o do meio.
Numa extremidade temos a “participação” meramente física, meramente ativa ou emocional; nele não há assistência, não há participação verdadeira. Só atos contam (levantar, sentar, ajoelhar, cantar, chorar, comungar). Não é isso que a Igreja nos pede e recomenda.
Na outra extremidade, oposta àquela, temos a “assistência”, igualmente falsa, que é meramente passiva. É ir para a Missa e responder ou não, cantar ou não, Comungar ou não, mas ficar a pensar noutra coisa ou simplesmente sentindo prazer estético, reparando se a casula do padre tem furos de traça ou deliciando-se a música, etc., sem unir o sacrifício individual ao de Cristo na Cruz. Também não é isso que a Igreja nos pede e recomenda.
O que a Igreja nos pede e recomenda é que assistamos, em silêncio ou não, cantando ou não, mas ativos na nossa disposição interior de unir o nosso sacrifício pessoal ao de Cristo na Cruz, e que assim participemos, em silêncio ou não, cantando ou não, recebendo de Cristo a perfeição de sermos santos, sendo santificados (particípio) pelo que é Santo.
Cabe ainda lembrar que o preceito da Igreja é ouvir Missa inteira todos os Domingo e dias santos. Assim, se a pessoa só vai fisicamente, ela não está a pecar (apesar de não estar a ter tantos méritos, etc.), mas pecaria se ficasse em casa sob o pretexto de não conseguir participar.
Do mesmo modo, o preceito é de comungar uma vez por ano, no tempo da Páscoa. Se a pessoa está em pecado mortal (ou seja, se depois de sua última confissão ela faltou a uma Missa dominical ou ferial, se ela mentiu, se ela roubou, se fornicou, se cometeu adultério – ainda que em pensamento -, se blasfemou, se assistiu a pornografia…) não pode nem deve Comungar. Nesse caso, a Comunhão não seria comunhão, isto é, não seria participação em Cristo; seria, nas palavras de São Paulo, “comer e beber a sua própria condenação”.
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