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A DITADURA DA PALAVRA


O nosso mundo já não escuta Deus porque fala continuamente, a um ritmo e com débito atordoantes, para nada dizer. A civilização moderna não sabe calar-se. Fala sozinha a todo o momento. A sociedade pós-moderna recusa o passado e encara o presente como um vil objecto de consumo; quanto ao futuro, vê-o través dos raios de um progresso quase obsessivo. O seu sonho, que se tornou uma triste realidade, terá consistido em fechar o silêncio numa cela húmida e escura. E passou a imperar uma ditadura da palavra, uma ditadura de ênfase verbal.

Neste teatro de sombras, resta apenas a ferida purulenta das palavras mecânicas, sem alívio, sem verdade e sem fundamento. Muitas vezes, a verdade não passa de uma mera criação mediática falaciosa corroborada por imagens e testemunhos fabricados.

Assim sendo, a Palavra de Deus apaga-se, inacessível e inaudível. A pós-modernidade é uma ofensa e uma agressão permanentes ao silêncio divino. de manhã à noite, e da noite à manhã, o silêncio deixou de ter direitos; o barulho quer impedir o próprio Deus de falar. Neste inferno de barulho, o homem desagrega-se e perde-se; fica despedaçado por inquietudes, fantasmas e medos. Para sair desses túneis depressivos, anseia desesperadamente pelo barulho, para que lhe traga alguma consolação. Mas o barulho é um ansiolítico enganador, aditivo e mentiroso. O drama do nosso mundo está no furor de um barulho vazio de sentido que odeia obstinadamente o silêncio.

Esta época detesta aquilo a que o silêncio nos conduz: o encontro, a admiração e a atitude de quem se ajoelha diante de Deus.

In A Força do Silêncio,

de Sua Eminência, o Cardeal Robert Sarah

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