A humildade é como o cimento que sustenta a base de um edifício; sem ela, é impossível manter-se de pé na vida espiritual.
Um dos obstáculos mais graves à vida de oração é a soberba. Esse vício, definido pelos manuais de ascética como um apetite desordenado pela própria excelência, costuma aparecer muito entre os principiantes na intimidade com Deus. O demônio incita-os a um falso fervor tão grande a ponto de eles se acharem melhores e superiores aos outros. E, quando veem essa suposta superioridade ameaçada pela virtude de um amigo ou pessoa qualquer, não perdem a oportunidade para murmurar contra os seus êxitos e obras.
A Igreja recomenda vivamente às vítimas desse mal o remédio da humildade. Nos seus manuais, o Padre Antonio Royo Marín trata-a como "uma virtude derivada da temperança, que nos inclina a coibir ou moderar o desordenado apetite da própria excelência, dando-nos o justo conhecimento da nossa pequenez e miséria principalmente em relação a Deus". Embora não seja a maior de todas as virtudes, ela é fundamental para o progresso na santidade, pois coloca o sujeito no caminho da verdade e da justiça.
É humilde, portanto, aquele que tem conhecimento pleno de si mesmo e sabe perfeitamente que dele não pode sair nada de bom, a não ser que Deus o permita. "A verdade nos autoriza a ver e admirar os bens naturais e sobrenaturais que Deus quis depositar em nós; mas a justiça obriga-nos a glorificar não a beleza de uma paisagem contemplada numa pintura, e sim o artista que a pintou", exemplifica o Padre Royo Marín.
Pode-se pensar também no testemunho do então Cardeal Joseph Ratzinger, ao apresentar-se pela primeira vez como Papa na sacada da Basílica de São Pedro: um "pobre e humilde servo da vinha do Senhor", que se sentia consolado por considerar que "Deus sabe trabalhar com instrumentos insuficientes".
A humildade é necessária sobretudo para remover os obstáculos naturais à graça: " Deus resiste aos soberbos, mas concede a graça aos humildes" (Tg 4, 6). De facto, Santa Teresa tem razão quando compara essa virtude ao cimento que sustenta todo o edifício espiritual. Por isso, sem desconsiderar o seu grau de dificuldade, os aspirantes à santidade devem-se esforçar por serem humildes, andando sempre pelas vias da verdade e da justiça.
O Padre Royo Marín indica três principais "meios para se chegar à verdadeira humildade". Ei-los abaixo.
1. Pedir incessantemente a Deus
Como todo o dom de Deus, a humildade também é uma graça que somente Ele pode conceder aos que a desejam e lha suplicam. Há uma ladainha escrita pelo Cardeal Merry del Val, Secretário de Estado de São Pio X, que pode ser recitada todos os dias nesta intenção:
Jesus, manso e humilde de coração, ouvi-me. Do desejo de ser estimado, livrai-me, ó Jesus. Do desejo de ser amado, livrai-me, ó Jesus. Do desejo de ser conhecido, livrai-me, ó Jesus. Do desejo de ser honrado, livrai-me, ó Jesus. Do desejo de ser louvado, livrai-me, ó Jesus. Do desejo de ser preferido, livrai-me, ó Jesus. Do desejo de ser consultado, livrai-me, ó Jesus. Do desejo de ser aprovado, livrai-me, ó Jesus. Do receio de ser humilhado, livrai-me, ó Jesus. Do receio de ser desprezado, livrai-me, ó Jesus. Do receio de sofrer repulsas, livrai-me, ó Jesus. Do receio de ser caluniado, livrai-me, ó Jesus. Do receio de ser esquecido, livrai-me, ó Jesus. Do receio de ser ridicularizado, livrai-me, ó Jesus. Do receio de ser infamado, livrai-me, ó Jesus. Do receio de ser objecto de suspeita, livrai-me, ó Jesus. Que os outros sejam amados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo. Que os outros sejam estimados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo. Que os outros possam elevar-se na opinião do mundo, e que eu possa ser diminuído, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo. Que os outros possam ser escolhidos e eu posto de lado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo. Que os outros possam ser louvados e eu desprezado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo. Que os outros possam ser preferidos a mim em todas as coisas, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo. Que os outros possam ser mais santos do que eu, embora me torne o mais santo que me for possível, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
2. Pôr os olhos em Jesus Cristo, modelo incomparável de humildade
O Padre Royo Marín recorda que foi o próprio Cristo quem "nos convidou a pôr os olhos n'Ele, quando nos disse com tanta suavidade e doçura: 'aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração' ( Mt 11, 29)". Desse modo, o grande teólogo da vida interior indica quatro pontos sobre Cristo como temas para nossa meditação:
a vida oculta, quando Ele se humilhou no seio da Virgem Maria e se fez Filho de um simples carpinteiro;
a vida pública, com a Sua dedicação aos pobres e serviço aos mais simples;
a paixão, ocasião em que lavou os pés dos discípulos e deixou-Se ser humilhado e açoitado pela nossa salvação; e
a Eucaristia, ápice de Sua entrega com o ocultamento também da natureza humana, e por todas as descortesias e ofensas que aceita no Sacrário.
3. Esforçar-se por imitar Maria, Rainha dos humildes
Finalmente, o Padre Royo Marín recorda o modelo daquela que sempre se considerou a pobre e humilde escrava do Senhor. "Apenas fala, não chama a atenção em nada, dedica-se às tarefas mais próprias de uma mulher no pobre casebre de Nazaré, aparece no calvário como mãe do grande fracassado…" Estas são apenas algumas das características lembradas pelo padre para apresentar a humildade de Nossa Senhora. Assim, afirma que "sob o seu olhar maternal a alma há de praticar a humildade de coração para com Deus, para com o próximo e para consigo mesma".
Essas são dicas valiosas do Padre Royo Marín que devem urgentemente ser colocadas em prática por todo fiel cristão. O orgulho, mais do que os pecados contra a castidade, ofendem diretamente o Coração de Jesus, pois demonstram uma atitude de altivez em relação à Providência divina. Lembrem-se que o demônio não pecou contra o sexto mandamento, mas contra o primeiro. De nada adianta ser puro como um anjo, mas soberbo como um diabo.
Busquemos, portanto, a humildade para que todas as nossas outras virtudes brilhem ainda mais pela graça de Deus.
In Christo Nihil Praeponere