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MARIA: O SEGREDO DAS FAMÍLIAS SANTAS


A graça, como todos sabemos, não destrói a natureza, mas a eleva e aperfeiçoa. Foi por isso que Deus, ao confiar O Seu Filho único aos cuidados de Maria e José, quis que Nossa Senhora, como toda a boa mãe, fosse o centro e o coração da Sagrada Família. A Ela Jesus, com incrível humildade, e José, com castíssimo amor, dedicavam os seus melhores afectos e atenções.

E é também por isso que Maria, ainda hoje, deve continuar a ser a alma e o coração dos lares cristãos: Ela é a Rainha, o modelo, a ajuda e o ânimo para todas as famílias que desejam permanecer unidas e ser santas como santa foi a casinha de Nazaré.

A devoção a Maria é uma fonte viva de benefícios, não só para o indivíduo, mas também para toda a sociedade, seja doméstica, seja civil ou religiosa. No que diz respeito à sociedade doméstica em particular, quatro palavras sintetizam as relações que ligam Maria Santíssima com a família cristã: Rainha, modelo, ajuda e ânimo.

Vejamos de que maneira o culto de devoção a Nossa Senhora pode ajudar a promover, de modo muitíssimo eficaz, a unidade e a santidade dos nossos lares.

1) Maria, Rainha da família

Maria Santíssima é e deve ser, em primeiro lugar, a Rainha da família cristã. Esta realeza de Maria tem o seu fundamento sólido nas singulares relações que a unem à grande e eterna família do céu, composta pelas três pessoas divinas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

Maria Santíssima, como disse Pio XII, está “misteriosamente aparentada, em virtude da união hipostática, com a Santíssima Trindade e com Aquele que, só, é por essência a Majestade infinita, Rei dos Reis e Senhor dos senhores, como Filha primogénita do Pai, Mãe terníssima do Verbo, Esposa predileta do Espírito Santo” [1].

Ela é, com efeito, por esse seu divino “parentesco” com a família divina, Rainha de todas as outras famílias; tem, portanto, direito à homenagem, ao obséquio e à servidão de todas elas. Donde é de suma conveniência que todas as famílias, além de se consagrarem ao Sagrado Coração de Cristo Rei, se consagrem também ao Coração Imaculado e doloroso de Maria Rainha, a fim de reconhecer de uma maneira solene e voluntária esse domínio natural que Ela tem sobre todas as famílias.

Daí a oportunidade de erigir em todos os lares, no lugar mais frequentado da casa, um altarzinho com uma bela imagem de Maria Santíssima, de maneira que todos possam tê-la continuamente diante dos olhos e no coração, tornando-se assim, na prática, Rainha do lar, verdadeira “dona da casa”.

Será também oportuno colocar em todos as divisões alguma bela imagem de Maria: Ela deve constituir o centro ao redor do qual se desenvolva e no qual se inspire toda a vida doméstica. Diante dela a família deve recolher-se em oração, especialmente durante a récita do Santo Terço. A Ela as crianças devem aprender a pedir perdão depois de qualquer travessura. A Ela, além de flores materiais, devem-se oferecer todas as flores espirituais, bem como as florzinhas que em sua honra produzem e pintam as crianças. A Ela se recorre continuamente nas várias necessidades da família, tanto espirituais quanto materiais. A Ela, enfim, a saudação de todos ao entrar ou sair de casa.

Será de bom conselho renovar todos os anos o acto de consagração a Maria, a fim de trazer outra vez à memória os nossos deveres para com a amabilíssima Rainha de todas as famílias. E podemos facilmente imaginar os grandes e incalculáveis efeitos de semelhante presença de Maria em todas as famílias cristãs. O pensamento, tão óbvio, de não entristecer jamais a uma tão excelsa Rainha, sentada no seu trono, será de grande eficácia para impedir as blasfémias, as palavras feias, as discussões, as imprecações; numa palavra, o pecado em todos os seus aspectos. Não será menor a eficácia de semelhante presença em fazer com que floresçam, tendo-a como exemplo luminoso, as mais belas virtudes cristãs, particularmente as domésticas.

2) Maria, modelo da família

Maria Santíssima, em segundo lugar, deve ser o modelo da família cristã e, de uma maneira muito particular, daquela que é o centro e o coração da família: a mãe. Só será mãe cristã, autêntica e verdadeira, aquela que se moldar ao exemplo da augusta Mãe de Cristo.

E quais as notas característica de um coração de mãe? São duas: o amor e o sacrifício.

Ora, não são estas justamente as duas notas mais melodiosas do Imaculado Coração de Maria? Que poder de amor e que espírito de sacrifício há naquele Coração! Ela é e será sempre a Mestra das mestras na arte de sobrenaturalizar o amor e o sacrifício.

Mas a Virgem Santíssima, na família cristã, além de ser modelo insuperável de mãe, é também o modelo mais completo para os filhos. Com efeito, ninguém, depois de seu próprio e divino Filho, esteve mais perfeitamente do que Ela sujeito aos seus pais, cercando-os de respeito, de afecto filial e de infinitas delicadezas. Nela, por conseguinte, devem inspirar-se todos os filhos de família, se queremos que cada família cristã se converta noutra Família de Nazaré.

3) Maria, ajuda da família

Maria Santíssima, em terceiro lugar, é ajuda da família cristã. Entre os poucos, mas significativos episódios referidos pelo Evangelho a respeito de Maria Santíssima, há dois que nos revelam o quão propensa é a Virgem a socorrer as famílias cristãs. Estes dois episódios referem-se às duas famílias que tiveram grande relação com Cristo: a de Zacarias e a desconhecida família de Caná.

Deviam ser duas famílias muito devotas de Maria Santíssima e muito conhecidas e amadas por Ela. Foi em favor destas duas famílias que Ela alcançou de Jesus dois milagres, os dois primeiros milagres que Ele realizou: o primeiro, na ordem sobrenatural: a santificação de S. João Baptista; o segundo, na ordem natural: a conversão da água em vinho.

Maria Santíssima ficou a saber pelo Anjo, no dia da Anunciação, que a sua prima Isabel, mulher de Zacarias — que ficara mudo pela incredulidade às palavras do Anjo —, depois de tantos anos de humilhante esterilidade, era agora mãe, e mãe do Precursor de seu divino Filho. Desejosa de participar da inefável alegria de sua santa prima, abandona a celestial solidão de Nazaré, dirige-se às montanhas da Judéia e entra na casa de Zacarias. Levado por Maria, entra ali também Jesus. Assim outrora; assim agora; assim sempre.

À voz da saudação que Maria dirige à dona da casa, Isabel sente-se cheia do Espírito Santo, e o pequeno Baptista, saltando no seio de sua mãe, expressa com aquela manifestação de alegria a santificação produzida na sua alma. Com este excelso dom sobrenatural (a voz de Maria foi como o veículo daquela primeiro milagre), Ela recompensou o afecto que lhe tinha aquela família.

O mesmo deve ser dito da visita de Maria a uma outra família, que estava prestes a constituir-se. Aqueles dois jovens esposos tiveram a nobre ideia de convidar Maria para participar da alegria que lhes inundava o coração, ao verem finalmente realizado o seu sonho de amor. Maria aceita, com complacência maternal. Por respeito a Maria — como parece deduzir-se do texto —, convidam também a Jesus com os seus primeiros discípulos.

Sempre acontece assim: onde entra Maria, antes ou depois entrará também Jesus,e com Jesus todo o bem, tanto espiritual como material. Foi nesta ocasião feliz que o contracto matrimonial elevou-se à dignidade de sacramento [2], ou seja, foi elevado para significar a inefável união de Cristo com a Igreja e a conferir a graça necessária ao cumprimento de todos os deveres conjugais. Este foi o benefício espiritual. A ele veio somar-se o material.

Aconteceu, pois, que o vinho começou a faltar, e Maria Santíssima, sem que ninguém lho pedisse, dirigiu-se ao seu divino Filho, e Ele realizou o milagre — o primeiro, o que abriu a série de seus milagres — da conversão da água num generoso vinho. Esta mesma ajuda, prestada a estas duas famílias, a Virgem há de prestá-las sem dúvida alguma, ainda que não lha peçam explicitamente, a todas as famílias que lhe oferecerem seus obséquios.

4) Maria, ânimo da família

A Virgem Santíssima é, em quarto lugar, o ânimo da família cristã. A quantas famílias tem confortado a Consoladora dos aflitos! Em primeiro lugar, confortou a primeira família humana, imediatamente depois de sua clamorosa derrota pela serpente infernal.

Com efeito, das palavras dirigidas por Deus à serpente, a “Mulher” prometida aparece como um raio de esperança entre as trevas da culpa, como promessa de vitória sobre a serpente vencedora. A luminosa visão desta prometida eterna inimiga e vencedora de Satanás foi o que consolou os nossos primeiros pais e a seus descendentes nas amarguras da peregrinação terrena. A Ela, pois, dirigiu a humana família, desde o primeiro momento, o seu olhar como a uma tábua de salvação, e como a seu supremo ânimo.

Confortou, com a sua vinda a este mundo, a sua própria família, ou seja, a seus santos pais, aflitos — segundo uma antiga e venerável tradição — por uma longa e humilhante esterilidade. A alegria trazida por Maria Santíssima à sua família não era mais do que um símbolo da alegria que Ela havia de trazer a toda a família humana em geral e a cada família que a faz penetrar nas suas paredes domésticas.

Estes são, em rápida síntese, os benefícios preciosos e incalculáveis que a devoção terna e sólida à Virgem Santíssima traz para a família. Se é verdade que a família é o “centro da humanidade”, já que a sociedade, tanto civil como religiosa, não é mais do que a extensão da família, também é verdade que a salvação da família acaba por coincidir com a salvação da sociedade. E a salvação da família é precisamente Maria, Rainha do lar. Eis porque se deve “à Santíssima Virgem tudo o que de bom tem a família. Nunca será demais repeti-lo” [3].

Tradução e adaptação de Gabriel M.ª Roschini, La Madre de Dios según la Fe y la Teología. Trad. esp. de Eduardo Espert. 2.ª ed., Madrid: Apostolado de la Prensa, 1958, vol. 2, pp. 505-509.

 

​Notas:

  1. Cf. L’Osservatore Romano, 19 mai. 1946.

  2. É contudo ponto discutível em teologia sacramental o momento exato em que Cristo teria elevado o matrimônio à dignidade de sacramento da Nova Aliança (Nota da Equipe CNP).

  3. S. de Lestapis, “Marie et la Famille”, em: Marie, vol. 1, Paris, Beauchesne, p. 767.​

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