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AI DE MIM SE NÃO EVANGELIZAR - HOMILIA DO 5º DOMINGO DO TEMPO COMUM


Celebramos hoje o V Domingo Comum na Liturgia da Igreja. O Evangelho apresenta Jesus rodeado de uma multidão marcada pelo sofrimento: “Curou muitos enfermos atormentados por diversos males e expulsou muitos demónios” (Mc 1, 34). Mas se, por um lado, Ele se dedica a curar, por outro retira-se para um lugar deserto. E ali orava durante a noite. Ação apostólica e oração completam-se. Pedro e os seus companheiros procuram o Senhor. Quando O encontraram, dizem-lhe: “Todos Te procuram”. A verdadeira luz deve ser procurada em Deus, sobretudo através da oração.

Vimos que Jesus vai à casa de Simão Pedro e André e encontra a sogra de Pedro doente com febre; toma-a pela mão, ajuda-a a levantar-se e a mulher fica curada e começa a servir. Neste episódio sobressai simbolicamente toda a missão de Jesus. Jesus vindo do Pai vai à casa da humanidade, na nossa terra, e encontra uma humanidade doente, doente com febre, com aquela febre que são as ideologias, as idolatrias, o esquecimento de Deus. O Senhor dá-nos a sua mão, levanta-nos e cura-nos. E faz isto em todos os séculos; pega-nos pela mão com a sua Palavra, e assim dissipa a obscuridade das ideologias, das idolatrias. Toma a nossa mão nos Sacramentos, cura-nos da febre das nossas paixões e dos nossos pecados mediante a absolvição no Sacramento da Reconciliação. Dá-nos a capacidade de nos erguermos, de estarmos de pé diante de Deus e diante dos homens. Jesus dorme na casa de Pedro, mas de madrugada quando ainda está escuro, levanta-Se e sai à procura de um lugar deserto para rezar ( Cf. Mc 1, 35). Surge aqui o verdadeiro centro do Mistério de Jesus. Jesus fala com o Pai, esta é a fonte e o centro de todas as atividades de Jesus; vemos a Sua pregação, as curas, os milagres e por fim a Paixão, saem deste centro, do Seu Ser com o Pai. E, desta forma, este Evangelho ensina-nos o centro da fé e da nossa vida, isto é, a primazia de Deus. Onde Deus não está, o homem deixa de ser respeitado. Só quando o esplendor de Deus resplandece no rosto do homem, o homem imagem de Deus é protegido por uma dignidade que depois ninguém pode violar.

O Reino de Deus é o centro do seu anúncio, isto é, Deus como fonte e centro da nossa vida, diz-nos: só Deus é a redenção do homem. E podemos ver na história do século passado, como nos Estados onde Deus tinha sido abolido, não só a economia foi destruída, mas sobretudo as almas.

As destruições morais, as destruições da dignidade do homem são as destruições fundamentais e a renovação só pode vir do regresso de Deus, isto é, do reconhecimento da centralidade de Deus. Só quando primeiro há a Palavra de Deus, só quando o homem está reconciliado com Deus, é que as coisas materiais podem correr bem.

Os apóstolos dizem a Jesus: volta, todos te procuram. E Ele responde: não. Devo ir a outros lugares para anunciar a Boa Nova, foi para isto que vim. Jesus veio – está escrito : “saí do Pai – não para trazer os confortos da vida, mas para trazer a condição fundamental da nossa dignidade, para nos trazer o anúncio de Deus, a presença de Deus e, desta forma, vencer as forças do mal. Ele indica esta prioridade com grande clareza: não vim curar – faço também isto, mas como sinal – mas vim para vos reconciliar com Deus. É sobretudo a Ele que nos devemos dirigir.

A missão de Cristo é evangelizar, levar a Boa Nova até o último recanto da terra, através dos Apóstolos e dos cristãos de todos os tempos. Esta é a missão da Igreja, que assim cumpre o que o Senhor lhe ordenou: “Ide e pregai a todos os povos…, ensinando-os a observar tudo quanto vos mandei” (Mt 28, 19-20).

São Paulo na 2ªleitura recordava: “Porque, pregar o Evangelho não é para mim motivo de glória, mas uma necessidade. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho” (1 Cor 9, 16).

Com essas mesmas palavras de S. Paulo, a Igreja tem recordado com frequência aos fiéis a chamada que o Senhor lhes dirige para levarem a doutrina de Cristo a todos os cantos do mundo, aproveitando qualquer ocasião.

Perguntemo-nos se no nosso ambiente, no lugar onde vivemos e onde trabalhamos, somos verdadeiros transmissores da fé, se levamos os nossos amigos a uma maior frequência dos Sacramentos. Examinemos se encaramos a ação apostólica como algo urgente, como exigência da nossa vocação, se sentimos a mesma responsabilidade daqueles primeiros discípulos, pois a necessidade hoje não é menor… “Ai de mim se não evangelizar!

O mundo precisa de santos! A santidade não é um privilégio de poucos; é um dom oferecido a todos: “Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação” (1 Ts 4,3).

Na pregação não se pode querer agradar a todos reduzindo, de acordo com as conveniências humanas, as exigências do Evangelho:” Falamos, não como quem procura agradar aos homens, mas somente a Deus” (1Ts 2, 4).

Não é bom caminho pretender tornar fácil o Evangelho, silenciando ou rebaixando os mistérios que devem ser cridos e as normas de conduta que devem ser vividas. Ninguém pregou nem pregará o Evangelho com maior credibilidade, energia e atração que Jesus Cristo, e houve quem não o seguisse fielmente. Não podemos esquecer-nos de que pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gentios, mas poder de Deus para os escolhidos, quer judeus, quer gregos” (1 Cor 1, 23-24).

Todos andam à Tua procura… “Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-Lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-Lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria”.

A obra de salvação, iniciada por Cristo, está ainda em ação e, para que se perpetue até ao fim do mundo, deixou à Igreja a incumbência de a levar a cabo e, na Igreja, a todo o crente. Todo o cristão que teve o privilégio de ter recebido o Evangelho, deve sentir-se responsável dele perante os que não tiveram esse dom, e comunica-Lo na medida do possível. O que já está na órbita da salvação, não pode olhar com indiferença para os que ainda não estão; está obrigado a arrastar consigo o maior número possível de irmãos.

Padre José António Rebelo da Silva

Prior de Colares

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